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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

GLACIAL

o frio não combina com o mar
nem com a imensidão desta ausência
nem com os pés arrastando no chão
à deriva

o mar é bravo
e está frio a doer nos ossos
a lascar a pele já despida de sua cor

o instante de ver o mar
não ultrapassou para a ventura depois da linha
aqui é só o agora pálido, sem tintas
num torpor que transmuta-se em nevoeiro

os dias se arrastam multiplicados na sua dor
são segundos infinitos que duram como blocos de gelo
que não se sabem eternos

aqui não há o que celebrar
pois a alma está submersa
nesta terra fria e vulgar

os ventos extirparam as palavras
e deram-me um coração de pedra

e fizeram de mim um iceberg
ao sabor dos desejos das ondas
que não conhecem perigo

nesta imensidão desértica
flutuar
talvez como destino
e atravessar este frio até algum lugar aqui mesmo


04/04/2016
João Lopes Filho






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