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sábado, 19 de dezembro de 2009

SÁBADO


neste estado transitório do ser
puros sentidos
tato
se instala a saudade nesta ilha


em português posso dizer:
saudade


ouço a música do Ira
saudade
acordo com alegria
saudade
falo com os amigos
saudade
sinto o cheiro da feijoada
saudade
leio o livro do iogue
saudade
escrevo o poema
saudade


as imagens pronunciam seu nome
suave saudade
química
doce ausência
até que os olhos dêem conta
de sua chegada.


19.12.2009 10h04min sábado

domingo, 29 de novembro de 2009

HOMENGAGEM


Vou pintar o céu
Dizer sim
Enquanto tanto tudo
Cabe aqui


Vou aconchegar o sentimento
Ventar
Ler as mensagens das garrafas
Enquanto tanto tudo
Nasce aqui


Vou pintar o céu
Com as cores das tintas
que você quiser.


29.11.2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

OS DEUSES ESTÃO ENTRE NÓS


as saias giram contra o véu da noite
os cantos aceleram as vibrações cardíacas
os deuses estão entre nós
festejam
usufruem da comida
da ambiência humana
se agitam


as mulheres se agigantam
deusas negras
da dor extraem a festa
(secularmente)


sagrado e profano
festa dos sentidos
presença negra nos céus
onipresença nas terras da bahia
olgas balançam o ar
os deuses estão entre nós.


20.11.2009
IMAGEM


na fotografia dos pensamentos
(dos meus)
se revela a sua imagem


na sua fotografia
aparecerá meu tom
minha alegria
minha paz


na sacada sou eu
prenhe de lembranças...
sentidos inflamados


na janela sou eu
na espera
olho atento


na fotografia é você
feliz
feliz demais


na casa sou eu
cheio de expectativas
então, chegue logo.


20.11.2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

ASSIM


vou procurar você
na minha pele
na minha barba por fazer
nas tatuagens da memória

vou procurar você
nas sombras que me seguem
na expressão dos grilos
na alegria que move a casa

vou encontrar você
no vento que traz segredos
nas buzinas à toa
nos degraus

vou encontrar você
aqui
vou encontrar você
em mim
vou encontrar você
assim

vou guardar você
aqui assim
aqui em mim

vou tatuar em você
meus resquícios
meus vícios
minhas alegrias
minhas rimas soltas
meu amor.


19.11.2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

CÉU



Poeira das estrelas
Canções de amor e alegria
deleite


Nós em fricção
Fronteiras ultrapassadas
Pele
pele
pele
pele



Lá fora o sol se esmera
Parece que a cidade é fantasma
Não ouvimos os sons

Música e música
e mais música
O amor se instaura
O instante, aqui é eterno
O céu é você.



02.11.2009

O tempo parou por aqui


As estrelas devem estar lá fora
Desejam participar da festa
Nem sabemos mais do tempo
Nem se o sol já nasceu
Nem se choveu
Nem sabemos se há nuvens


O tempo parou por aqui


Nem precisamos de relógio
Esse desejo
Esse momento
Essa vida que nos assalta
Prolonga as horas indefinidamente


O tempo parou por aqui


Nem mensagens de celular
Nem os correios
Nem e-mails
Nos alcançam
Voamos, navegamos, mergulhamos
Nas surpresas de nós mesmos.


O tempo parou por aqui


Festa dos sentidos
Enlaces
Pura alegria
Êxtase que nem no Cirque du Soleil
Meditação
Sexo, toque, suspiros
Risos, olhares em demasia
E algo para comer
Maria Bethânia, Edith Piaf via Bibi:
Sons que visitam nosso ninho.


O tempo parou por aqui


Inútil calendário
Um amor se desenha
com flores amarelas
Entre quadros e esculturas
No meio dos livros
Assim nos invadimos sem parar.


O tempo parou por aqui.


02.11.2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ESPERA


de todos os beijos
o seu
apaga os outros


de todos os beijos
o seu
dispara o enigma

de todos os beijos
o seu
exige pulsação

de todos os beijos
o seu
afeta a memória

de todos os beijos
o seu
fica aqui germinando

de todos os beijos
o seu
aguarda em mim o seu chamado.

21.10.2009

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

FAÍSCAS


essa sede de viver tudo
tudo tocar
qualquer coisa sentir
amar muito e sempre


essa ânsia de mais
de provar tudo
de ter todos os prazeres
essa inflação de expectativas
todo o futuro nas mãos:


isso produz faíscas

16.10.2009

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

FRICÇÃO


estou a um passo do abismo
beira
fronteira
nos liames do que sentimos

desejo desvendar o seu desejo
que não decifro ainda



busca inesgotável
que não se conclui em mim
que não começa em você

silêncio na cidade
cá dentro um barulho
busca do abismo da beira



ainda decifro seus silêncios
suas ausências
sua presença cintilante
sua pele



ainda saberei de mim.


12.10.2009

domingo, 11 de outubro de 2009

LEVEZA

Você chega assim delicadamente
Gestos lânguidos
Sorriso largo com os olhos apertados
Tudo leveza
Saudando um novo dia

Não há jeito,
Tento adivinhar seus pensamentos
Nos seus silêncios ponho palavras

Deixa o seu perfume
E uma montanha de paz
Mesmo que haja algo de tristeza em seu olhar

Há no seu olhar uma procura
Um desejo
Meu desejo se alimenta e se ergue
Mansamente

Começo o dia com sua visita
Com seus sons suaves
Com sua voz suave
Com seu anel
Com sua pulseira de tornozelo
Com sua tatuagem
Com seus passos leves
Pura beleza, tentação

O poema sai assim tão sensual
Tão casual.
As horas ficam mais leves com você
O poema sai leve pra você

06.10.2009
O QUE A NOITE TRAZ

Os sons da noite se fazem audíveis
A marca do relógio
O tempo da saudade de quem desconheço
Os poemas de Arnaldo Antunes
As máquinas com seus silvos repetitivos
Tudo insiste em ocupar pedaços da noite

Os sons da noite se fazem audíveis

Os relógios registram o tempo
Os relógios não marcam as marcas
Os relógios anunciam uma metáfora de existir
Os relógios interrompem o fluxo da vida
Os relógios repetem a ficção

Esta noite traz um vento desorientado
O poeta está perdido na miragem dos pontos de luz
As estrelas parecem estar no chão
A cidade vai silenciando o dia
A noite assoma plena
Quando os relógios fixam a hora de dormir
Saudade de mim
Saudade de ninguém
Saudade do futuro
Eu aguardo que eu durma e acorde
Eu me divido
Eu sonho
Eu contemplo a cidade
Parece que as estrelas estão no chão.

01.10.2009

PÉTALAS

As pétalas foram espalhadas na varanda
Um imenso vazio se apodera
De tudo ao redor

Quem dera as palavras pudessem ganhar vida
Quem dera
Quem dera gritar alto sem incomodar os vizinhos
Quem dera
Quem dera que as pétalas ressuscitassem flores
Acordassem flores
Quem dera alguém entrasse aqui com flores

Quem dera
Domar a fera
Ferir as dores

A cidade está em festa e luzes
Olho tudo com distância
As pétalas esperam pelos primeiros raios de sol
Outra vez acordar
Ânimo na sucessão das horas modorrentas
Enquanto as pétalas aguardam seu destino.

01.10.2009
TRISTE

Para Fátima Berenice

Quem disse que o poema não pode ser triste?
Quem disse
Quem disse que o poeta é triste?
Quem disse

O poema resiste
Triste
O poema existe
Em riste
O poema insiste
Triste

Quem disse que o poema é triste?
Quem disse
Quem disse que o poeta não pode ser triste?
Quem disse

Fátima, o poeta insiste
No poema triste
Porque o vazio insiste
Em riste, a dor persiste
A rima rima
Mas é triste.

01.10.2009

segunda-feira, 29 de junho de 2009

EXERCÍCIO

O papel espera as marcas
Cores
Flores vermelhas
dores
Amores voláteis

O papel aguarda o tempo
Lamentos afagos rancores
Cansaço dos dias

O papel vibra pela letra inútil
Palavras fumaça motores
Movimento
Sons noturnos

O papel está inerte
vaguidão
cores lamentos movimento
solidão

flores amores cores motores dores

o papel espera
a alegria bate à porta
a alegria bate
a alegria
a alegria bate
a alegria bate à porta

28.06.2009
João Lopes

terça-feira, 16 de junho de 2009

FLUTUAÇÃO

o corpo flutua
paira sobre a cidade
torna-se uno com a vastidão

o ser flutua
o outro ausente
fala comigo
um sentimento oceânico atravessa o espaço

o corpo flutua
pensamentos fixados num objeto único

o ser flutua
calmaria fúria movimento
o universo está contido na casa
espaço e tempo sem fronteiras
paixão


14.06.2009

João Lopes

sábado, 13 de junho de 2009

NOTÍCIA DO DIA

essa atmosfera é memória
o corpo sente
as marcas da pele
resquícios:
sons cheiros músicas vinho petiscos
peles em atrito
pêlos cabelos vozes
difícil acordar...
sons distantes do dia
a cidade, enfim, nos acorda
cansaço de um combate sem fim
paixão paz paixão paz prazer
trégua

os dias são outros
os dias serão outros
outros dias
outro amor
sinapses por se completar
palavras onomatopéias poesia
tênue memória
vago poema
presença ausência presença ausência
saudade
saudade
saudade

13.06.2009 12h23min

quinta-feira, 11 de junho de 2009

AMANHECERES
Amanhece
A espera incide
Com os primeiros sinais de sol

A pele evoca a memória
Palavras
Carência de palavras

A memória do ontem aflora na superfície
“Memória da pele”
Teu nome é alegria
Humor paixão

A pele lembra
cheiros sons carinhos
chamas abraços interjeições

Amanhece
O dia começa com a voz
A voz insiste no dia

Os amanheceres são felizes
Os amanheceres
Serão muitos

A memória da minha pele
Na sua pele
Nem se importa com a colisão entre Vênus e a Terra
Amanhã, de novo, novo amanhecer
Palavras pele cheiros sons

Esta é a crônica da sucessão destes dias
Memórias realimentadas todo dia
Você chega com o sol
Nesses amanheceres felizes.

11.06.2009

quinta-feira, 19 de março de 2009

O MAR

Imenso mar
A vida escorrega brilhante
Em celebração
Mar das profundezas abissais
Das insularidades
Qualquer palavra não o contém
abismos
Fúria azul.

15.01.2003
FOTOSSÍNTESE

Quero o sol na minha cabeça
Então regurgitarei todas as palavras
Fórmulas
Modas
O mundo nem se lembrará da explosão
Da gênese
Síntese de todas as belezas

Quero o esconderijo do quarto
voltar pra casa
Sacudir a poeira

Kafka que me perdoe
Mas o inseto não sou eu
Sou cores prismáticas
Nas alamedas caóticas
trânsito bárbaro
dinheiro que rola nas ruas
dinheiro que move a política
metáforas
síntese das plantas
O sol nas plantas
Fotossíntese.

23.09.2007

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

EXISTIR

A linha fluídica das horas
Personifica um relógio
Que freqüenta as flores da janela.
O vácuo não recua,
As palavras embriagam meu espírito
Milênios assim.
Nessa circunstância existencial
Seria melhor o silêncio sem palavras.

06.01.2002
BAGDÁ

um papel em branco
é sempre uma tentação
uma fuga
um vazio
meros traços

palavras sem fundo
tomam conta da alma
da aura
da água
das marés
o mundo é composto de palavras

tento na rima fácil subverter
os hermetismos
(iconoclasta)
enquanto as bombas invasoras americanas
destroem a esperança no Oriente Médio.

04.05.2004
FIM

Quando tudo acaba
Vertigem
As palavras bóiam
Num universo de luz diáfana
Pálidas palavras

Quando tudo acaba
Há silêncio instalado
Entre corpos que
Carregam as marcas e avarias
Do caminhar no mundo.

07.01.2006
O BARCO


Velas içadas em mar aberto,
Última peça de um mirante,
Assim ocupo um lugar.

Antes, a força impele-me
À deriva,
À mercê do vento.

Vagalhões decidem sacudir o barco,
Sendo como é,
Sem leme,
Sem direção.

Navego...
Porque navegar é uma ordem impositiva,
Pulsão inexorável.

05.04.97

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O POEMA DIFÍCIL

Verter a poesia
Destilar o poema
Em versos que se perdem
Na liquidez do dia.
A inspiração falta
A onda não molha a areia
A veia está enferrujada

20.02.98
INTERROGAÇÃO

Uma frase sem sentido,
Um elogio qualquer,
As fugas,
Uma flor que verga
murmuro entrelinhas nas frases
entre linhas tênues
disfarço
me desfaço em gestos
economizo a pulsão
que tempo tenho, então?

30.11.2002
O MAL-ESTAR

vultos amarelos ao longe
são luzes, faróis
na longa estrada
que nunca cessa o movimento

a natureza impera
nos sons da noite

os sentidos plenos
a todo vapor
desafiam os costumes
o mal-estar se instala
a natureza derrota a cultura
ou mescla-se com ela
num ponto qualquer
da via de passagem
para lugar nenhum
para qualquer lugar

2005
REFLEXOS

Reflexos da minha imagem
No vidro da mesa
Contra um colo
Reproduzem meu rosto em sombras
Sem contornos
Sem lmites
Indefinido
A aura paira boiando sobre o vidro
Acima da tinta e do papel
O sentido se esvai
A alma se estilhaça
Enquanto se reconstrói
A palma da mão
O destino contém
A palma é o passado
Se refletindo no futuro.

14.12.1997
PORTO

viver emoções superlativas
tragando o amargo sabor
de certas horas
é viver
e acreditar

fragmentos da alma
desespero
tempestade

haverá sempre o porto

o reagrupamento das partículas.
BANALOGIA

sua voz reverbera
me relança no passado
nem tão distante
nem tão ausente

tua presença
tem alegria e dor
tem festa

mas afinal o que fazer
se não sei?
e o riso, este disfarce,
mostra tudo que você
quer esconder?

não trago comigo
nenhum segredo
nem sei porque escrevo este
poema banal.

10.01.1995
RESÍDUOS MODERNOS

a poeira paira
acima das nossas cabeças
as cinzas
poluem o éter

um caminho de (im)possibilidades instala-se
o futuro desliza

02.03.1998

domingo, 25 de janeiro de 2009

MOVIMENTO II

Enquanto a prata colore meus cabelos
A fissura da alma atravessa a rua
A criança explode, eclode, voa
Enquanto a rima, por acaso, soa

Andam estrelas
Voam pedras
Sambam amores

Nestas ruas lavadas de suor
As máquinas rangem,
As máquinas nos acham estranhos

O coração acelera, volátil
Está escrito nas faces:
O amor é demodée.

26.01.2003

sábado, 24 de janeiro de 2009

SUTILEZAS



O tormento das horas
Chega com a tarde
Com o sol a se por
Com a noite entrando pela janela
Na confusa mistura entre noite e dia
A palavra treme
Vem rasgando a garganta
Até converter-se em bálsamo
Que aplaca a sede da alma

A alma plana
A alma anda
A alma arfante
Exulta de alegria e liberdade
Brincando com as correntes
Que insistimos em não ver.


05.05.2004

ABRAÇO

Num único abraço
celebrar a vida.
Abraçar o universo
em lilases,
róseos,
plúmbeos também.
Aspergir música
na garganta do vulcão.


16.l0.97

VERDADE

Corro em direção ao espaço infindo
os pés não marcam o chão
A água cai sobre a cabeça

Enquanto tudo dorme
Enquanto sonho
Enquanto beijo o chão

Quanto tempo há até que tudo se desintegre
E a verdade, algum fragmento,
Seja vislumbrada por nossas cegueiras?

Enfim, andemos!

Mas, quantos sóis passarão ainda?


26.01.2003

HORIZONTE LOGO ALI



Você dá sinais de que o horizonte é logo ali
Idas e vindas do vento,
Como as nuvens que se ajuntam,
Assim são seus passos.
As entrelinhas revelam
O que sua face confirma.
O horizonte é logo ali

Logo ali
nuvens e vento
Calmaria, perigo, enfim.

Assim a dúvida se instala lentamente.

24.12.2002

ACASO



Na escritura do verso
me devolvo um eu repartido,
recortado.

A fixidez transmuta-se volátil
através da porta escancarada
que suga as fronteiras.

Sem território,
desconhecendo o lugar dos limites,
atenho-me
a míseras aventuras.

O acaso faz seu império.

02.02.98

RUMOR


Mora ao longe um rumor
Que abala a flor
A flor move o mundo
Mora aqui
A flor da vida
Eterno conhecer
Até descobrir o ignorar.

27.07.2005

O LIMO E AS PEDRAS



O limo e as pedras
imóveis na bica
transparecem a aparente imobilidade
causada pela ausência de suor humano
Nada os move,
exceto o vento escasso
nesta tarde invernal.



2002

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

DANÇA DO TEMPO



Estes obscuros objetos de cena
Acompanham os passos
Do tempo que avança

Dança, senhor, dança
Passeia pelos espaços
Voa
Surdo senhor
Tempo que assovia
Atrás do vento

Que rima com a morte
Que geme com os bichos
Que pesa mesmo leve
Que se insinua
Que grita
Que fala
Que escala a cama
Que exaure a alma
Que canta

Canta senhor das tréguas
Dormita sorrateiro
Feito de dança e movimento

Volteia nesses obscuros objetos
Que acenam com o olhar
Golpeia, tempo
A carne carcomida
A pele alva e o ar.

05.05.2004

O corpo transita
trespassado pela inquietação.
pela pergunta

interrogações demais
vazios
pouco tempo

pouco tempo
para respostas.


31.07.1999

SAMBISTAS

Abram suas mentes
Que um samba doido vai passar
Abram os olhos
Deixem o movimento
Entrar nas suas almas
São as máquinas
Todas lotadas de sensações
Ensinando os homens
A cantar, dançar, rimar
Como nunca se viu

Máquinas na pista
Homens dançando
Porque as máquinas é que trabalham

Agora a vida é festa, desejo, paixão
Máquinas e homens em comunhão
É samba.

31.07.2004

CONSTATAÇÃO

Passos e passos
nossos rumos iguais
se perdem.

Poses,
vislumbres de luz
em algum ponto incerto

Ouço vozes
nos gestos das águas
no sorriso das naturezas-mortas

As fotografias
exalam o cheiro
do profundo inacabado
tempo interior.

09.05.1986

PALAVRAS

Palavras
a crua cara
da fala
da larva
dos meteoros


11.05.1985

NOTURNO

na esquina da rua
no cruzamento de vias
eis um gato
que não diz nada
porque não há perguntas.

há luz
que agora vibra
e o gato olha pro céu
talvez lamente
a solidão da noite
as horas andam rápidas...
talvez festeje a liberdade
a suprema atitude
de vagar pelas noites
e amar nos telhados.

05.11.1985

NOTÍCIA

Te espero
nunca te vejo

te ouço
por outras bocas

tu vibras
através das cordas vocais
do pássaro que passa.


04.03.85

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

FALSO

Tudo parece falso
entre brilhos e perfumes
a troca de olhares,
os cheiros,
a fumaça,
a música,
a louça.
Tudo parece falso
tão pouco profundo,
uma inflação de gestos inúteis,
uma sucessão de passantes.
Tudo parece falso
Tudo parece nada
Tudo é nada
Tudo falso.




PASSOS

ensaio passos
que não dou
no tempo estabelecido
depois aprendo
que não há tempo
nem espaço
então, disfarço
e me desfaço.

16.04.1994

ACONTECIMENTO

De repente
murcham as flores
e saímos loucos pelas ruas
em busca
do elo perdido
perdidos
na fumaça.

MÁGICAS

A ereção
a íris sã
e o bolero de Satã.
Mágicas que faço
no espelho
só para ensaiar
as nossas horas vãs.

24.01.1987

ACORDAR

Lúcido alvorecer
De um novo dia
Quando o remo foge
A lua esconde-se
E o mar ao longe
Desconecta as profundezas abissais da mente.

2002

O TEMPO DANÇA

Estes obscuros objetos de cena
Acompanham os passos
Do tempo que avança

Dança, senhor, dança
Passeia pelos espaços
Voa
Surdo senhor
Tempo que assovia
Atrás do vento
Que rima com a morte
Que geme com os bichos
Que pesa mesmo leve
Que se insinua
Que grita
Que fala
Que escala a cama
Que exaure a alma
Que canta
Canta senhor das tréguas
Dormita sorrateiro
Feito de dança e movimento

Volteia nesses obscuros objetos
Que acenam com o olhar
Golpeia, tempo
A carne carcomida
A pele alva e o ar.

05.05.2004

BAGAGEM

Cada dia
diferente há de ser
Mesmo que tudo se repita
na bagagem que carregamos
na bagagem que esquecemos.

23.12.1984

ELETRODOMÉSTICO

Brota uma palavra
Nua
Qualquer
Quase tudo
Quase nada
A onda tenebrosa
Dissipou-se
Enquanto nos alegramos
Com as fantasias
Da máquina de inércia
Que nos filtra um mundo
Que nos tira os mundos
Que constrói o nosso mundo.

27.07.2006

VIDA

A vida
A vida escorre
A vida trafega no vácuo
Enquanto olhamos o trem feito de lembranças.


2002

domingo, 18 de janeiro de 2009

INTRODUÇÃO



(...) certamente o homem
está fora de órbita
ou em órbita
em torno de si mesmo
apenas...
09/12/86

BRUMAS


Brumas
O pensamento atordoado
Cipoais de ilusões
Sinto, o medo vem à tona
Falta
Das teorias que explicam tudo
Da explicação cabal do mundo.

JOGO

Quando digo
Escondo
Quando grito
Amalgamo as fúrias
De toda a existência.

COTIDIANO II

Tanta fúria
se é preciso
só prazer.
Tanto grito
se é mesmo
só amar.
Assim vivemos
e morremos
diariamente.

22.07.1984

COTIDIANO

A voz ao longe sugere uma longa batalha

AS FLORES AMARELAS

as flores amarelas que cristina trouxe
iluminaram o meu coração
as meninas e os meninos, com suas palmas
curaram dores e mágoas

flores
cores
o amarelo, o amarelo, o amarelo
o amarelo das flores

as flores amarelas de cristina
lavaram a minha alma
outras almas foram lavadas junto

a alma das flores fez minhas pernas perderem o prumo
o coração disparou
com as flores de cristina
amarelas como o sol
flores amarelas dos leoninos
flores para joão, o menino

meninos e meninas numa apoteose de sons
das palmas das mãos num choque ritmado
lavaram minha alma
rito de passagem
ritual coletivo, tribal
para exorcizar dores e mágoas
afirmando cores, nuances, idéias, crenças

cristina, a menina que trouxe consigo
as outras meninas e os meninos
cristina e o mel das palavras
lançando as asas que continuarão comigo
viva cristina,
viva os meninos e as meninas

e assim sigo vivendo
confirmando os caminhos, os propósitos
na ressaca da emoção
cristina, as meninas e os meninos de pé
pela educação
que merece carinho e cuidado
viva Cristina
viva as meninas
viva os meninos.

02.02.2007

AÉREO

Sinto a vertigem do trânsito dos carros
E dos pensamentos
Reviravoltas, ondas, marés
Uma moda nos bafeja
Outra moda acena do horizonte
O universo dos carros causa vertigem
O pensamento

a sucessão de pensamentos
Um universo à parte
Carros,
Pensamentos,
Movimentos paralelos,
E o mundo continua inexplicável.

23.08.2007

A POEIRA DAS ESTRELAS

A poeira das estrelas
Ai de nós!
impulsiona um destino
Que não sabemos a causa
Nem o depois
O destino tece
Nos tece
Elastece
E prolonga o drama da existência.

25.02.2007

DESEJO

Avanço na rede
À espera de ser fisgado
Nestes dias quentes

na rede me lanço inutilmente
toque
tique
truque

a lembrança daquilo que não é memória
inscreve-se na minha pele

as músicas epidêmicas que inundam o ar
beijam-me no calor deste dia tórrido
nestes trópicos nordestinos
um pouco aquém do mar
mas quase lá
antes que o coração dispare a voar.

26.01.2003

ABALO

A fala abala
A rala cadência
Dos insensatos.

Os atos
Os restos do papel
Cedem à tinta

A chuva
congela no ar.

11.05.97

FACA

A faca
farsa
Faça a diferença emergir
no limbo das explanações
no evaporar das máscaras.
Adelante!


04.05.97

sábado, 17 de janeiro de 2009

PALAVRAS


Persigo a palavra
da qual não me liberto-
ela que não se deixa enclausurar.
Daqui por diante
quero apenas palavras!
Quero dobrá-las,
contorcê-las,
fazê-las significarem.
Atarei as palavras aos objetos.
O concreto,
o ideal,
a emersão do eu unificado dar-se-á.
Que doce exercício inútil
só comparável à poesia.
Perseguem-me as palavras,
quando penso que as possuo.


09.03.97.

TEMPO II


De soslaio
O tempo nos mira
Nos espera
Inevitável
Incognoscível
Impreciso
Estático
resistente

TEMPO




Corro em direção ao espaço infindo
os pés não marcam o chão
A água cai sobre a cabeça

Enquanto tudo dorme
Enquanto sonho
Enquanto beijo o chão

Quanto tempo há até que tudo se desintegre
E a verdade, algum fragmento,
Seja vislumbrada por nossas cegueiras?

Enfim, andemos!

Mas, quantos sóis passarão ainda?


26.01.2003

SAMBISTAS

Abram suas mentes
Que um samba doido vai passar
Abram os olhos
Deixem o movimento
Entrar nas suas almas
São as máquinas
Todas lotadas de sensações
Ensinando os homens
A cantar, dançar, rimar
Como nunca se viu

Máquinas na pista
Homens dançando
Porque as máquinas é que trabalham

Agora a vida é festa, desejo, paixão
Máquinas e homens em comunhão
É samba.

31.07.2004

O MENINO E O CACHORRO

Através da janela filtro o mundo
O menino e o cachorro seguem sua rotina
O cachorro caminha soberano
Marca território na rua alheia
Pára
Cheira
Mija
O menino atende todos os caprichos do cachorro
O menino parece em paz
O cachorro sente-se livre
Qual a liberdade que é permitida ao cachorro?
Será livre o menino?
Seguem o menino e o cachorro numa união feliz
O menino é paciente
Menino e cachorro seguem sua rotina feliz
Alheios ao mundo na rua alheia.


31/09/2007

PÁSSARO

O fôlego me falta
Ante a avidez das palavras;
Elas me inoculam veneno,
Revolvem as minhas vísceras.
A falta não são palavras:
A gramática subjuga-se:
A pontuação vira louca furiosa.
Cada passo não passa de um passo
Pássaro que sou.

11.06.1998

SEM TÍTULO II

Nada
O tormento das horas
Chega com a tarde
Com o sol a se por
Com a noite entrando pela janela
Na confusa mistura entre noite e dia
A palavra treme
Vem rasgando a garganta
Até converter-se em bálsamo
Que aplaca a sede da alma

A alma plana
A alma anda
A alma arfante
Exulta de alegria e liberdade
Brincando com as correntes
Que insistimos em não ver.


05.05.2004

FANTASMAS


Levo os fantasmas ambulantes
Onde quer que vá
Energias remotas
Inerciais
Abrangem o tempo
Sem medida do estar
Histórias atávicas lançam-se no vento
Bafejando meu sono
A luz que vejo através dos buracos na parede
Vem domesticada
Sob medida
Geométrica.

JANELA

Forças cegas,
Impalpáveis,
Barram o espírito de vida,
a pulsão erótica.
Através da janela,
algo distante do tempo
é evocado.
Através da janela,
descortina-se uma fala
constrangida
em confessar.
Através da janela
o existir destroça-se
num suicídio diário,
entorpecido pela aurora.
Através da janela,
olhando a paisagem,
tudo parece igual
e não é.
Através da janela
o nada não aparece,
apenas o vazio de quem olha.


25.01.97.

ENGRENAGEM

Tanta aridez
Que já nem prestamos atenção
Às horas.
Tomamos milhões de Coca-cola
Para fazer o mundo se reproduzir.
A engrenagem assoberba tudo.
E eu nem tenho tempo de molhar as plantas.



09.08.97

EMERSÃO

Levantem as armas
Cuspam a fúria
Arremessem torrentes de lavas incandecentes
Sobre a cidade hipócrita,
Sobre o consenso artificial.

Os copos vão tremeluzir,
O fogo desenhará esculturas,
Os eus virtualizados farão acrobacias.
E então, não soarão cânticos entoados
Com o claro desejo de desafinar?
não existirão cristos nestas pedras.
tudo se dissolverá
Os animais tomaram os corpos dóceis,
A fúria deletou as estátuas

Todos os pretéritos,
Todos os presentes,
Todos os futuros
Tudo em torrentes
Tudo agora.
Enquanto uma lágrima corre sutil
Entre a alegria e a dor.

30.05.98

DANÇA

dança das palavras
síntese
signos proliferam
no horizonte e em todo lugar,
todo corpo
na eventualidade dos passos.
Ella Fitzgerald na dança dos fonemas
ela nos dança
enquanto as palavras nos enlaçam
cores
texto
fugacidade veloz
gritos
sussurros
sombras do existir
à tona na intuição das horas
a reverberar interrogações.

31.05.2003

ASAS

Antes que me tornasse o que não sou
Criei asas
Antes que morresse a poesia
Criei asas
Antes que falta de imaginação imperasse
Criei asas
Antes que o rio secasse
Criei asas
Antes que o amor virasse um contrato
Criei asas
Antes que o riso cessasse
Criei asas

Antes que o mundo se torne impossível
Criemos asas
Voemos
Vamos fermentar a imaginação.

03/02/2007

FROGODÔ

Para Lozinha

frogodô é festa
alegria
pulsação
bebida, comida, amor
filigranas do existir

frogodô é beijo
carinho, atenção
dona ló falou que aqui vai ter um frogodô
porque a dor é momento
a vida é mais
a vida é celebrar a vida

frogodô
dona ló faz a festa da vida
porque frogodô é leveza
compreensão, tolerância

frogodô é festa boa
festa dos bons
festa do coração.
Mimo, presente
Carinho
Carícia
Música
Dança
Animação
Sentidos, olhares, roupas
Movimento, movimentação

Frogodô é união
Fofoca, contemplação
Carne e espírito sem separação.

15.05.2007

MEMÓRIA

A memória
Inescrupulosa que é
Faz emergir um corpo
A imagem da pessoa que ri sem motivo
Enigma
Fantasias em ebulição
Pequenos clarões na selva da cidade.


14.05.2006

QUAISQUER

as redes atravessam meu corpo
as redes fazem-me peixe
as redes prendem o meu cérebro
as redes enlatam meu prazer
as redes bifurcam a existência
as redes arregimentam a sede
e as cores
e as cores
e as cores
flores mortas e vulcânicas
flores cores redes
vivo em 1998
e morro em qualquer ano
desmandos da imagem
desanda a imaginação
dez águas contaminadas arrastam
deixe estes grafitis exibindo-se nos muros
deixe estes grafitis colados na sua alma
deixe estes grafitis como mensagens para qualquer
fazer qualquer
quaisquer que sejam as cores com as quais você me seduz.

30.05.98

O MUNDO

De repente,
o tempo perde o relógio.
Libertado das engrenagens,
Virtualiza tudo ao redor.

Um anjo anuncia a obviedade:
O mundo acabou!
Interrogo:
Por acaso, existiu alguma vez
O mundo?

10.08.96

FLUIDEZ

Na escritura do verso
me devolvo um eu repartido,
recortado.
A fixidez se liquidifica
através da porta escancarada
que suga as fronteiras.
Sem território,
ignoro o lugar dos limites,
me atenho a míseras aventuras.
O acaso agora faz seu império.

02.02.98

MOVIMENTO

Enquanto a prata colore meus cabelos
A fissura da alma atravessa a rua
A criança explode, eclode, voa
Enquanto a rima, por acaso, soa

Andam estrelas
Voam pedras
Sambam amores

Nestas ruas lavadas de suor
As máquinas rangem,
As máquinas nos acham estranhos

O coração acelera volátil
O romantismo esmaece.

26.01.2003

HELICÓPTEROS

Helicópteros vagueiam na brancura do dia,
As aves caçam seu lanche entre os dejetos.
Um risco no ar anuncia
Uma palavra que nunca foi dita,
Uma palavra que farfalha.

Helicópteros.
O equilíbrio que nunca houve
Nos fala,
Nos falta.
30.01.98

ESTRELAS

Interroguei as estrelas,
Mas quando abri os olhos
Já não havia mais estrelas.
Estrelas são lembranças,
Marcas da fugacidade
Do existir das estrelas
estrelas são objetos pretéritos,
transitoriedade luminosa,
Uma explosão
A nos iludir.



29.05.97.

OBSCUROS OBJETOS

Estes obscuros objetos de cena
Acompanham os passos
Do tempo que avança

Dança, senhor, dança
Passeia pelos espaços
Voa
Surdo senhor
Tempo que assovia
Atrás do vento
Que rima com a morte
Que geme com os bichos
Que pesa mesmo leve
Que se insinua
Que grita
Que fala
Que escala a cama
Que exaure a alma
Que canta
Canta senhor das tréguas
Dormita sorrateiro
Feito de dança e movimento

Volteia nesses obscuros objetos
Que acenam com o olhar
Golpeia, tempo
A carne carcomida
A pele alva e o ar.

05.05.2004

ABALO

A fala abala
A rala cadência
Dos insensatos.

Os atos
Os restos do papel
Cedem à tinta

A chuva
congela no ar.



11.05.97

DIVÃ

Minha alma plana
sobre as superfícies lisas
sem palavras marcadas pelas ausências.
Minha alma plana
cheia de faltas
botões desligados
indo no vácuo.
A alma palma da mão
inscreve-se no futuro
a demandar expectativas.
Mensagens cifradas
vagando sobre um sofá
a ganhar sentido.
No entanto,
minha alma navega.

11.10.1997

DISSOLUÇÃO

Relógios não me faltam
Mas o tempo enloquece
Chuva ou faz sol
Relógios anunciam
alucinados
que o tempo acabou

CASCATA

Minha angústia
ataca pelas manhãs
cascata
sem data nem lugar
A rima escapa
involuntária
reflete
refrata
a hora insólita
em que não há como saber
o que se deseja.