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sábado, 27 de setembro de 2014

DESFECHO

na cessação da água
o verbo impinge gotículas
para não desesperar,
para que o ar lance nuvens
diante do corpo que escuta
uma palavra que esboce sentido,

que não cesse a alegria,
que os frutos se lancem como dádivas,
que as luas tragam o conforto
de um amor tranquilo, por sorte,
como queria Cazuza.

27/09/2014

João Lopes Filho
ÁGUAS

para Daiane Oliveira

Tudo desafia a gravidade
mansamente.  Águas calmas,
amálgama dos passos dados no mundo.
(Águas calmas). Eu aqui tsunami
diante dos hieróglifos
da vastidão do que não tem nome ainda.

Chegas parecendo praia calma.
desafiando o imperfeito,
a pressa,
um lugar que falta para cada coisa.
(Praia calma...)

Eu tsunami
À espera do próximo vôo,
de transbordar. De um ponto fixo qualquer.
De saber da praia e do que paira no vazio:
tsunami.

Súbito me encontro tsunami. A espera é tsunami.
As ondas rolam matemáticas. As ondas feitas de espaços
vazios,  de entrelinhas e de silêncios
excursionam  exibidas.

Praia calma pode ser  tsunami. Praia calma
pode nem saber onde se finda.
Chegas assim como praia calma sussurrando
o que pode ser.


27/09/2014

João Lopes Filho
INVENÇÃO

lá vem o trem do passado
que espero no vão
de olhos vidrados
no decalque
no breu
em vão:

o trem é depois
é abismo
futuro

o trem é minha invenção
a lápis
rascunho

o trem chega sem relógio
sem bula
sem trilhos
sem sinal

o trem é agora de chegar

13/09/2014

João Lopes Filho
EFEITOS

cabe na taça
tudo
tudo que posso pensar

cabe na taça
nada
nada que posso sentir

cabem as raras palavras
a sua fidalguia
a lenta “pensação”
os olhos atentos a  flutuar
a falta de tudo que falta

cabem na taça
a alegria,
e os olhos que engolem o mundo.

13/09/2014

João Lopes Filho

domingo, 7 de setembro de 2014

INVOLUEME

explique-me
sem titubear
a lógica das tangentes
e dos círculos
o íma da sua presença
a falta do que é nada

explique-me
as reminiscências
do menino perdido
fabricando animais de nuvens
nas tardes tropicais modorrentas

explique-me
porque tudo parece voltar
ao mesmo lugar
porque o infante guerreia
porque o infante chora
porque um traço é um trago
nestas tangentes e círculos.

04/09/2014

João Lopes Filho

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

CONSEQUÊNCIAS

empreste-me suas conseqüências
seus cadernos
seus suores falsos
e os ensaios de viver
para que eu perca o prumo
e  floresça um samba
uma bossa qualquer
a lembrança do que virá
neste chão liso e brilhante.

03/09/2014

João Lopes Filho
SUSTO

da janela que recorta a cidade
e a vastidão
miro as miragens que construo
das nuvens
dos prédios vazios
da réstia de sol
que trazem o teu sorriso

decalco um instantâneo
de mim
sem fotografias acidentais

o anúncio me chama para o chão
e oferece viagens a Paris
eu nem me desfiz da miragem
da fantasia de flanar na cidade
e tomar susto
com tua irrupção
no avesso do mundo

eu mudo
eu puro susto
feliz
tu dizes do amor
do solstício que se vai
e do sol que se inclina sobre mim.

03/09/2014

João Lopes Filho