Seguidores

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

EXISTIR

A linha fluídica das horas
Personifica um relógio
Que freqüenta as flores da janela.
O vácuo não recua,
As palavras embriagam meu espírito
Milênios assim.
Nessa circunstância existencial
Seria melhor o silêncio sem palavras.

06.01.2002
BAGDÁ

um papel em branco
é sempre uma tentação
uma fuga
um vazio
meros traços

palavras sem fundo
tomam conta da alma
da aura
da água
das marés
o mundo é composto de palavras

tento na rima fácil subverter
os hermetismos
(iconoclasta)
enquanto as bombas invasoras americanas
destroem a esperança no Oriente Médio.

04.05.2004
FIM

Quando tudo acaba
Vertigem
As palavras bóiam
Num universo de luz diáfana
Pálidas palavras

Quando tudo acaba
Há silêncio instalado
Entre corpos que
Carregam as marcas e avarias
Do caminhar no mundo.

07.01.2006
O BARCO


Velas içadas em mar aberto,
Última peça de um mirante,
Assim ocupo um lugar.

Antes, a força impele-me
À deriva,
À mercê do vento.

Vagalhões decidem sacudir o barco,
Sendo como é,
Sem leme,
Sem direção.

Navego...
Porque navegar é uma ordem impositiva,
Pulsão inexorável.

05.04.97

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O POEMA DIFÍCIL

Verter a poesia
Destilar o poema
Em versos que se perdem
Na liquidez do dia.
A inspiração falta
A onda não molha a areia
A veia está enferrujada

20.02.98
INTERROGAÇÃO

Uma frase sem sentido,
Um elogio qualquer,
As fugas,
Uma flor que verga
murmuro entrelinhas nas frases
entre linhas tênues
disfarço
me desfaço em gestos
economizo a pulsão
que tempo tenho, então?

30.11.2002
O MAL-ESTAR

vultos amarelos ao longe
são luzes, faróis
na longa estrada
que nunca cessa o movimento

a natureza impera
nos sons da noite

os sentidos plenos
a todo vapor
desafiam os costumes
o mal-estar se instala
a natureza derrota a cultura
ou mescla-se com ela
num ponto qualquer
da via de passagem
para lugar nenhum
para qualquer lugar

2005
REFLEXOS

Reflexos da minha imagem
No vidro da mesa
Contra um colo
Reproduzem meu rosto em sombras
Sem contornos
Sem lmites
Indefinido
A aura paira boiando sobre o vidro
Acima da tinta e do papel
O sentido se esvai
A alma se estilhaça
Enquanto se reconstrói
A palma da mão
O destino contém
A palma é o passado
Se refletindo no futuro.

14.12.1997
PORTO

viver emoções superlativas
tragando o amargo sabor
de certas horas
é viver
e acreditar

fragmentos da alma
desespero
tempestade

haverá sempre o porto

o reagrupamento das partículas.
BANALOGIA

sua voz reverbera
me relança no passado
nem tão distante
nem tão ausente

tua presença
tem alegria e dor
tem festa

mas afinal o que fazer
se não sei?
e o riso, este disfarce,
mostra tudo que você
quer esconder?

não trago comigo
nenhum segredo
nem sei porque escrevo este
poema banal.

10.01.1995
RESÍDUOS MODERNOS

a poeira paira
acima das nossas cabeças
as cinzas
poluem o éter

um caminho de (im)possibilidades instala-se
o futuro desliza

02.03.1998