LABAREDA
carrego ainda os andrajos do que fui
da flor que não fluía
esbarro no tempo onde pétala a pétala
o corpo se reconstrói,
até não se reconhecer mais flor
corro até esmorecer
até a linha que não se ultrapassa
desenhada com as chaves da minha gaiola
a cada golpe dos pés sulcando o asfalto
fica um resíduo do que nunca fui:
as facas que me feriam
as lágrimas que mourejavam como pedras
os assombros
a
matemática não mais inspira o relógio
o
fogo-fátuo fez-se fogos de artifício
com
outras invenções no agora das passadas
ergueu-se assim
outra língua feita de ímpeto, ardor e graça
21/08/2017
João Lopes Filho