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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

LABAREDA

carrego ainda os andrajos do que fui
da flor que não fluía

esbarro no tempo onde pétala a pétala
o corpo se reconstrói,
até não se reconhecer mais flor

corro até esmorecer
até a linha que não se ultrapassa
desenhada com as chaves da minha gaiola

a cada golpe dos pés sulcando o asfalto
fica um resíduo do que nunca fui:
as facas que me feriam
as lágrimas que mourejavam como pedras
os assombros

a matemática não mais inspira o relógio
o fogo-fátuo fez-se fogos de artifício
com outras invenções no agora das passadas

ergueu-se assim
outra língua feita de ímpeto, ardor e graça

21/08/2017

João Lopes Filho

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

SEMBLANTE

desenho o rascunho
das flores artificiais que ornam
as palavras não pronunciadas

o jorro silábico interminável
sobrepõe todos os sons
sem perceber
o inverno
o sol que não compareceu
as chuvas que desabam

[me calo]

impossibilidade da letra
silêncio como signo
o real irrompe sem adjetivos

germinam na linha que nos ilude ao demarcar o horizonte
os bichos danados
que apenas insinuam seus contornos

14/08/2017

João Lopes Filho

sábado, 12 de agosto de 2017

MANHÃ

as ruas se multiplicam
os transeuntes nada sabem do que procuro

me perco indolente
nas trilhas do mapa
onde não florescem girassóis

no território sob a pele
arrepios são sinais
de que o mundo transborda de si

no subsolo onde algo se esqueceu
brota o que parece ter sido sempre assim
como as sementes que germinam no relento
esquecidas nos olhos alheios

12/08/2017
João Lopes Filho