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sábado, 20 de dezembro de 2014

SOPROS

o ar
transfigurado em sopros
me devolve meus próprios segredos

volteia
faz redemoinhos
se reduz ao calar-se
me devolve ao silêncio
me ins(pira)

o ar falante
traz a imagem
de quem habita minhas cenas
nos últimos dias
em “obssessão infinita”

não é amor
é do amor um pedaço
é o ar sem dizer sim nem não
são os sopros
que passam como trens velozes
numa estação flutuante

é o ar
transfigurado em sopros
me devolvendo meus próprios segredos

20/12/2014

João Lopes Filho
VENTOS

dom quixote aportou
nestas plagas
e eu
pedi conselho a cervantes
antes que os mares
me naveguem

cervantes reescreve
para que os ventos
não me cubram
com as areias
do deserto

os moinhos
fazem movimentos contrários
tudo tão confuso
que os moinhos movem os ventos

19/12/2014

João Lopes Filho

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

ESPANTO

espanto:
um talvez
a tela vazia
latidos

no porta retrato
seu sorriso
e seus imperativos

tanto chão
que tropeço
em suas palavras
escritas com vento

tanto chão
que toco seus pés
na areia quente

espanto:
o encontro  
as crônicas
os beijos de dilúvio

espanto:
o arco do tempo ainda pode
nos alcançar mais uma vez.

18/12/2014

João Lopes Filho

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O RIO

a música repetitiva
e  monocórdica
faz fundo para o rio de fogo
que fluxa inexorável

os peixes brilhantes
são flagrados
numa dança turbinada
pela solidão das águas

no rio sou eu
eu rio do que não se traduz

os peixes seguem alheios
a tudo
penso no destino dos peixes
o rio de fogo segue seu curso

a janela se abre
o véu se esfumaça
é sonho
peixe tem destino
eu invento

14/12/2014

João Lopes Filho

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

PEDRA

escorrego nas palavras
que não atiro
como pedras

e pesco em águas turvas
o que imagino do seu pensar
até que as palavras deslizam
sem traduzir
sem compor um texto
sem tessitura

sei sem saber
o que mais penso
desse pensar que se repete

é vento sem som
é pião desgovernado
é pedra nas palavras
é um espelho opaco
pedra
pedra nas palavras

10/12/2014

João Lopes Filho
ROMÃ

romã
porque lembro da minha mãe
romã
porque cura a garganta
que me rouba a fala
agora

romã
como roma
amor
como rama
amar
como ramo

(româ)ntica
romã
ro(mãe)tica

10/12/2014

João Lopes Filho
INESPERADO

a lua hoje não compareceu
temeu os meus sonhos
as ânsias
e a pressa do que vem
do que vem e não sabe
do que não sabe que vem
do que vem sem saber
do que não vem

a lua está no meu estômago
indigesta
por enquanto
até que venha um agora
o inesperado
uma lua como surpresa
que vem porque vem

08/12/2014

João Lopes Filho

sábado, 6 de dezembro de 2014

NOMEAÇÃO

         (em conversas com Joana)

nesta hora
em que o sol se foi
teu nome é silêncio
mesmo os monossílabos
se distanciam
da sua boca

ontem
quando o mesmo trem
nos cabia
o silêncio fez-se
mais do que precisava
e um adeus
de dor e pranto
se inscreveu
como pedra

02/12/2014

João Lopes Filho

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

DEPOIS

o sol quase nos surpreendeu
inertes
depois de tantas utopias
sorvidas aos goles

depois
que o calor nos acolheu
depois
do malabarismo das palavras
depois
que a pele era pele na pele
depois
que sussurramos a alegria
depois
dos restos de palavras

depois
o sol nos encontrou
na  nudez que esconde
sutis traços dos desejos

02/12/2014

João Lopes Filho
CÉU DE FOGO

um céu de fogo
brasa no peito
e o vôo dos pássaros
que carrego comigo

um céu de fogo
que chamusca a pele
e acende os sonhos

um céu de fogo
céu das minhas utopias
meu palácio movente

um céu de fogo
no sol que engoli
uma vez

um céu de fogo
descortina a festa
a energia primordial
o êxtase

27/11/2014

João Lopes Filho
CÓDIGO

tento decodificar
o mistério nos gestos
e frases inteiras
que escorregam

tento limpar as brumas
iluminar
nesta tosca tradução do vivido
e do que virá

penso tanto nos seus enigmas
que os advérbios gritam
e os pronomes sofrem
penso quanto e porque
(tolices)
quando a pele diz que o êxtase
é a pele na pele na pele

pele branca de nuvens
riscos...
códigos matemáticos impressos
na pele branca de nuvens
e a tatuagem em mim
se deixa ficar
sutil
como os grunhidos quase inaudíveis
assim como a alegria

sem mais

27/11/2014

João Lopes Filho
CHAMA

no tempo em que tudo é chama
retinas como balas
tempo de sobressaltos
assaltar o céu
é logo ali na curva

fugas?
só do amor

me escondo
nos seus pensares
me movo
no seu olho opaco
somos chamas efêmeras

a curva sem fim
é logo
ali
e este vento constante
é ameaça
no tempo em que tudo é chama

17/11/2014

João Lopes Filho
(ENTRE)

nos intervalos
existo
no que insiste
em se aninhar aqui

nos parêntesis
sou singular
nas múltiplas faces
de mim

nos intervalos
posso interrogar
e ser ponto continuativo

nos parêntesis
ando em círculos
como advém a poesia

nos intervalos
leio meu nome
e canto toda música

nos parêntesis
posso dipor vírgulas
siêncio
e livros inteiros

nos intervalos
choro e pranteio os fins
digo adeus

nos parêntesis
canto a presença
e a falta sem fim

nos intervalos
sou parêntesis

27/11/2014

João Lopes Filho
PRA MIM

todo dia
ensaio a vida outra vez
faço esforço de poesia

todo dia
há que se apostar de novo
há que se mirar o abismo
há que encontrar os  olhos
e seus mistérios

todo dia
sou eu de novo
outra vez

todo dia
pede decodificação
todo dia
pede corpo e sentidos aguçados
pois a vida inteira se descortina aí

27/11/2014

João Lopes Filho
INVENÇÃO

a tampa de cerveja achada ao acaso
do ocaso do meu quarto
dá acesso ao que se inscreve
neste hoje que demora a passar

presente suave
afagos
e uma noite longa demais
sem horas, minutos ou segundos

na dimensão do que se planta
nos corpos
doce memória
sem cicatriz

o acaso nos trouxe aqui
e parece dizer
das apostas
da imprescindível invenção

27/11/2014

João Lopes Filho
ABRIGO

em meio a goles extensos de utopia
de palavras
que querem decifrar o mundo
de palavras
que engolem  o real
inventamos nosso abrigo
feito de minimalismos
com o máximo de nós mesmos

longe dos murmúrios da cidade
na noite longa que nos funde
o tempo escorre

nos fazemos refúgio
um do outro
e o sol nos surpreende
com as roupas misturadas

26/11/2014

João Lopes Filho
SOBREVÔO

o olho e o pensamento
se embriagam de nuvens
de futuro
qualquer lugar se insinua
sem pés no chão
outra vez os pés me ultrapassam
as nuvens me seduzem
você se ergue como destino

26/11/2014

João Lopes Filho